segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Nada como um bom seriado - Parte 3, O mais dramático deles.


Skins é um grande sucesso britânico. Em Janeiro a série estreia o seu quinto ano. A cada duas temporadas o elenco é todo renovado, sendo assim, no mês que vem teremos uma nova geração de personagens e outras histórias. Além disto, estreia também no próximo mês, a versão americana de Skins. Ou seja, a série chega em sua quinta temporada, ganha uma adaptação americana e deve estrear em breve nos cinemas. Se você ainda não conhece Skins, chegou o momento de conhecer.

Sexo, drogas e bla bla bla. Nada de novo, pelo menos no que diz respeito ao tema. Porém, na maneira de abordar? Quanta diferença. Pra começar, vamos esquecer o politicamente correto. Em ‘Skins’ não há julgamento, nem sermões, existem pessoas. Jovens, mais especificamente, e sua inerente vontade de viver. Provoca? Claro. Deve escandalizar muita gente. Mas nem por isso se torna vulgar. Na verdade é uma bonita história sobre a juventude e a amizade.

Que tal fugir do óbvio, do clichê e do caminho fácil? Por exemplo, o personagem principal das duas primeiras temporadas tem boas notas, é inteligente, é popular, é um bom amigo, atua e canta na peça do colégio (até parece algum personagem de Glee). Que garoto exemplar, você deve estar pensando. Sim, que garoto exemplar. Ele também transa com todo mundo, empresta a própria namorada pro amigo virgem, quer experimentar o amigo gay e consome droga e álcool de maneira desenfreada. Que menino prodígio. Lá pelas tantas, ele sofre um acidente. Eis que ‘o cara’ virou motivo de gozação: ‘Olha lá, ele ficou retardado!’, é o que ‘as pessoas normais e corretinhas’ exclamam. É neste momento que ele recebe o apoio e o amor incondicional de cada um de seus amigos marginalizados.

O grande mérito da série, é que ela não recorre ao caminho fácil (ou convencional) e toca na ferida de verdade, desenvolvendo o tema com profundidade. Aqui no Brasil, a teledramaturgia (principalmente a da Globo) se gaba do que chama de ‘merchan social’. Por exemplo, na ultima temporada de Malhação, foi introduzido um personagem que tinha problemas com drogas. Sua única função era servir de step para a divulgação da campanha anti-crack. Uma assistente social e o melhor amigo do rapaz (o Fiuk… eca), gastavam longos minutos com sermões que utilizavam praticamente o mesmo texto didático e ‘sem emoção’ dos comerciais. Todos os dias, o mesmo sermão, com as mesmas palavras, repetidos a exaustão. Depois de transmitida a mensagem, o personagem desaparece da trama e a novela retorna a normalidade. Não é o caso da série Skins. Aliás, sua intenção passa longe do merchan social. Sua pretensão é mais documental, uma espécie de reality sobre o estilo de vida do jovem britânico.

Além das drogas, temos a questão da sexualidade. Chega a ser irônico, um país ‘tão liberal’ como o Brasil ser tão careta quando o assunto é sexo. Segundo a nossa teledramaturgia, aqui os jovens não transam, bissexuais e lésbicas não existem e gays pertencem exclusivamente ao núcleo cômico e caricato da trama. Ah, e eles não se beijam nunca, claro. Em Skins, de novo, temos o oposto de tudo isso.

Não podemos ignorar as referências de Kids e Ken Park, mas Skins sai na frente. Sua intenção não é apenas chocar e escandalizar, se fosse assim, a fonte teria secado faz tempo. A grande surpresa é que por debaixo de todo este ‘auê’ a série traz uma mensagem que emociona de verdade.

O ritmo da narrativa é bem diferente daquele que costumamos ver nos seriados americanos; A trilha sonora é de primeira qualidade e cria todo o clima. Tá, ás vezes, aparece alguma trilha totalmente oposta ao estilo indie/rock/clássico da série, na intenção de tirar um sarro. Mas faz parte do seu charme. Uma das características marcantes da série é a linguagem. Cada episódio se foca na história de um personagem. O problema é que alguns personagens são mais cativantes do que outros. Deste modo, alguns episódios podem não ser tão interessantes, de acordo com seu grau de interesse no personagem.

Outra característica que chama a atenção, é a maneira como os adultos são retratados na série. Enquanto os protagonistas jovens são desenvolvidos em toda sua complexidade, os adultos mais parecem ‘mortos-vivos’ que vivem suas vidas sem nenhum sentido. São abordados de maneira boba, suas motivações são superficiais e seus discursos bem vazios. Esta abordagem é totalmente intencional. O contraste entre juventude e vida adulta fica evidente. Na série, enquanto os jovens vivem a vida a flor-da-pele (e à sua maneira), os adultos ficam apenas no discurso ensaiado, empurrando com a barriga.

Enfim, se você ainda não conhece esta série, saiba que ela é altamente recomendável. Já foram exibidas 4 temporadas, cada uma com uma média de oito episódios. Aproveitando que todas as séries estão de férias, dá pra fazer uma maratona fácil, fácil. E em janeiro, você poderá acompanhar as reviews semanais aqui no blog. Agora, se você já conhece a série, eu quero saber: Quais são as expectativas para a quinta temporada da versão original e para a estreia da versão americana? Heeein?